sábado, 11 de julho de 2009

Já faz um tempo que não vejo o sol, aqui na capital paulistana parece que o mundo é cinza. Mas nada mais típico que uma manhã de sábado oscilando entre o nublado e o chuvoso; aqui, na terra dita da garoa, vejo a precipitação de fuligem em todos os lugares, inclusive no limpador do vidro do carro que espalha num borrão cinza escuro toda a fuligem sobre o vidro. Mas sempre existe aquele sentimento intimista de que a chuva parece oferecer mais descanso que o sol, que dormir com barulho da chuva é mais gostoso etc. Mentira! essa noite acordei três vezes por causa da chuva: a primeira para ver se tinha roupa estendida no varal, a segunda para ver se eu havia fechado a janela do carro e a terceira porque o barulho da água nas poças que haviam se formado era tão alto e parecia tão perto que pensei que algum cano de minha casa estivesse vazando. Coitado de mim, tenham pena. Talvez essa seja só uma desculpa que encontrei, porque no fundo, em algum lugar eu devo ter sentido o que aconteceu... uma aluna minha morreu na madrugada de hoje. Na minha curta experiência como professor acho normal passar por situações novas a cada dia, cada bimestre, mas se me fosse dado escolher esse tipo de experiência eu a deixaria para o final. O velório dela é hoje, os professores vão, não todos, porque a Morte está compensando e uma das professoras, grávida, está sob observação no hospital porque corre o risco de abortar.
Aluna minha. Seu nome na lista de chamada, ainda está lá. Lembra de quando éramos nós que estávamos na sétima/oitava série e abstraíamos sempre a presença do professor na sala, ou incluíamos ele nas conversas, ou até prestávamos atenção na aula? Pois é, agora sou eu quem está ali na frente, fazendo o quê eu não sei, mas estou lá e os alunos gostam e os alunos agradecem, mas ela... C. falava bastante, era muito alegre e risonha. Tinha boa letra... Engraçado saber tanto da personalidade das pessoas sem saber muita coisa a respeito de suas vidas. Sempre sutil é essa relação, mas muito rica, ainda mais quando sincera. E o nome dela ainda na lista de chamada, para sempre, como os outros, mas não mais com os outros.
Se estou triste? sim, sem dúvida. Mas me entristeço mais ainda quando penso na tristeza dos outros vinte e um alunos. Como será que irão reagir? As amigas vão chorar.
E agora olho para fora, através da janela. Chove. Um pensamento que constantemente me assombra é quando tento imaginar quantas crianças estão chorando neste momento, quantas prendem o choro... Hoje é um bom dia para chorar aqui em São Paulo, o clima feio e frio, essa chuva fora de época. Hoje é um bom dia para parar um pouco (mesmo porque com a chuva não conseguimos ir a muitos lugares) e pensar.