quarta-feira, 25 de novembro de 2009
O novo e o próspero
sábado, 14 de novembro de 2009
Me gritas
e a chuva respingava no vidro.
Eu, sem vapores, agradecia
a absolvição de te haver perdido!
Te perdi!
Não mais me devoras!
E não havia João; Maria se perdera na última ligação.
Eu, a chuva, o taxi.
Sem ti, sem eles, sem ninguém.
E o peito ficou vazio. Andei vazio.
Não foi ruim. Sequer foi péssimo.
Como foi bom extraviar-te, minha cara.
Mas "por favor" - disse no prazer dum quase
espasmo -, "que seja apenas por agora".
E violentamente irrompeste logo após.
Foi quando a chuva golpeou meu corpo,
minha cara deslavada, minhas mãos de dedos
nicotinados.
Foi no seio duma hora vazia.
Aí! Justamente aí irrompeste, cara minha.
Agora peno.
Peno porque faltaste.
Peno porque às 17:15, horario da Capital,
não manchaste tela alguma com tua doce letra.
Agora, que sou só tu, que sou só,
me sei só,
me sei latinoamericanamente melodramático;
desenterro a dúvida estúpida que anseia o óbvio.
Agora que sou ebriedade misturada com
café e analgésico, que sou "cualquiera"
na escuridão do bairro vazio,
novamente, te anseio e me dóis.
Assim deves ser: doida, novelesca.
Eu, nada quixotesco; eu, melodramático.
Tu, musa de armário, musa cômoda das
madrugadas etílicas.
Tu, Júpiter sobre o Oriente Médio,
a mão do império, a pose de quem coloniza.
Essa pose idealizada tão duramente
em dia e noites sem amor e de guerras.
Tu, arrasadora de peitos,
agora estás em mim, de-fi-ni-ti-va-men-te.
Depois do fortuito apagão,
aninhas de novo numa existência vaga
e és mais imponente do que nunca, semblante
estelar.
Tua ausência me gritou há minutos,
talvez horas atrás,
o que era estar no mundo sem vos.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
A metáfora devora em lógica circular e versos tortos
ilustra a prática,
surge a razão da ação concreta - essa redução -,
de cruzar mares
e poças, cortar ares.
Na metáfora de
ilustre prática,
ideologiza-se o passado anti-heróico
cuja alegoria presente - esse diabo de cinzas! -
alenta vetores que surtam
mas não mudam, não mudam
nem libertam.
Da metáfora do
texto que só evoca - mas não afirma-,
da poesia oca e libertina,
sai a lógica circular
que se condensa e satisfaz
no amálgama impossível
dum cabal ponto final.
domingo, 8 de novembro de 2009
O meu Levi Strauss
Não tenho dúvidas quanto a posição de neófito que ocupo entre àqueles que estudam antropologia nesse país. No entanto, depois de quatro anos de aprendizado e, sobretudo, aprendizado na prática, por meio do convívio com outros neófitos, com àqueles que ocupam posição de mestres e com a leitura de alguns textos, tenho algo a dizer sobre o falecimento de Levi Strauss nessa última semana. Sem dúvidas será um relato pessoal que não quer nada falar sobre a importância de suas obras, sobre o impacto de seu pensamento em nosso pensamento sobre o pensamento selvagem (rs!), tampouco sobre sua trajetória. Depois de quatro anos, tempo que compartilho com algumas das pessoas que também escrevem nesse espaço, criamos relações com os autores. Já não são mais pessoas desconhecidas e distantes, como Alex disse sobre Mercedes Sosa “Escutar suas músicas seguro de que, não tão longe do Porto Alegre, Mercedes vivia e cantava, destilando sua tristeza em versos, sempre foi um consolo para mim.” De tantas vezes lidos e relidos, passamos a ficar íntimos de muitos deles. Ainda que na maior parte das vezes essa intimidade mais se parece com poder tomar café com uma tia sempre disposta a falar, do que ter domínio sobre o modelo analítico que propunham. De todo modo Levi Strauss era um desses para mim, íntimo. Outros dois me soam íntimos também: Mary Douglas e Victor Turner. Mas com estes eu já administrava bem a questão de me relacionar com dois mortos.
Agora, Levi Strauss morto é um pouco desestabilizador. Justo nesse período em que estou lendo e relendo, incansavelmente, “O Pensamento Selvagem”... Ele me abandonou mais ou menos quando estava na minha quarta leitura do segundo capítulo, estava quase entendendo algo, eu juro. Se pudesse definir Turner em poucas palavras, ao menos o Turner com quem vira e mexe me relaciono, eu diria que é um bom contador de histórias, divertido e que faz tudo isso sentado no chão da sala, também o relaciono com a cor marrom. Já Mary Douglas é mais séria, erudita, daquelas que causam inveja, mas também é um pouco teimosa demais, não a relaciono com uma cor, mas sim com o cheiro de madeira.
Levi Strauss é/era (afinal nossa relação está passando por um momento temporal confuso) surpreendente. Uma daquelas pessoas que são capazes de te conduzir por um caminho, explicar todos os pontos que passaram, explicar porque o fizeram assim e quando você está convicto de que o ponto de chegada está a sua esquerda, ele mostra que está para cima e a direita. É surpreendente a ponto de colocar-me em lugares que não tenho nem palpites, sequer arriscaria um chute sobre como prosseguir. Talvez eu o definisse como um sujeito robusto, que me remete a um tecido de paletós velhos, mas admiráveis.
Falar de Levi Strauss é difícil, optei por descrever o que sinto em relação a ele (e de tabela sobre Turner e Mary Douglas) de um modo íntimo, provavelmente incompreensível, mas íntimo. Sinto-me próximo desse meu Levi Strauss, um Levi Strauss que conheço faz algum tempo, mas ainda bastante enigmático. Falo aqui do filósofo, do etnógrafo, de um dos maiores intelectuais do século, mas antes de tudo isso de um sujeito sempre disposto a dizer algo nas manhãs ou nas madrugadas que o convido a ser riscado por minha lapiseira. Uma vez escritos, o escritor já não têm mais domínio sobre seus textos. Uma vez escritor, não se tem mais domínio do que pode se transformar para aqueles que o lêem. Se aceitam minha proposta, escrevam sobre o Levi Strauss de vocês.