quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

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Vi ontem na Globo a imagem de integrantes do tráfico carioca com suas metralhadoras na mão em meio ao fluxo de civis. Era uma reportagem longa e se tratava na verdade de uma "guerra de posições", no sentido gramsciano, onde o que está em jogo é a busca pela hegemonia.
Na guerra do Estado contra o tráfico, a mídia tem uma função cultural homogeneizante. A estratégia utilizada pela emissora foi de insistir na importância da escola. O que me parece um tanto estéril. Ao mesmo tempo, a Globo "culpa" os garotos por escolherem a vida que levam.
Essa visão é fruto de uma mentalidade conservadora, que subestima a capacidade de reprodução social. O que ela faz é simplesmente transferir o problema para a escola, o que não resolve nada.

Sobre o aborto: mais uma questão espinhosa, onde reina o império da certeza, que nas palavras de Bourdieu "costuma ser o asilo da ignorância".
Abortos acontecem todos os dias no país, não raro em condições onde se coloca a vida das mulheres em risco. Sabemos que, sem planejamento familiar, a vida é mais difícil. Olha, eu sou a favor! Embora reconheça que o melhor ainda é a conscientização, algo menos oneroso que o procedimento cirúrgico. Concordo que o tema é de saúde pública, mais do que de polícia. No entanto, a ética religiosa presente nas declarações dos entrevistados não percebe a questão de forma sistemática, que geram consequências sociais alarmantes.


Abraços.

domingo, 25 de janeiro de 2009

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Dois em um

Se a falta é aquilo que não está, podemos descrevê-la? Sentir falta de alguém é uma coisa que se refere a quem fica, não a quem não está, por isso é estranho explicar. A falta pode ser do passado ou do futuro: podemos querer mais uma vez o que já passou, ou podemos querer a companhia de quem não está por causa da desordem que sua ausência provoca, de tudo novo que precisa ser pensado, lugares rearranjados, construções e reconstruções difíceis que a simples presença resolveria. Há também outro momento, que ainda não sei se refere-se ao passado ou ao futuro, mas que para mim não se encaixa como presente: quando você apenas quer a companhia, ligar para contar o que fez durante o dia, pedir um conselho, rir, ou tomar um chimarrão. Sentir falta é como estar parado na calçada, com os olhos tristes e a expressão de um susto que já se acostumou, enquanto as pessoas passam ao redor sem saber de nada, exatamente como um filme clichê. Sentir falta é chorar. Perguntar-se por quê. E achar respostas que nunca satisfazem, a razão não faz parte. É perder o sono imaginando como seria se houvesse presença em vez de ausência. E não há nada pra pôr neste lugar. Os tempos se confundem, as perspectivas e os sonhos tem que ser outros.
Sinto falta da minha mãe e de tudo que faltou acontecer (especialmente o tempo). Compartilho pra ver se ela diminui.
Falta.

(...)

Apenas para dividir uma inquietação: dia desses olhei em volta e percebi que meu creme de cabelo possui tecnologia de nano partículas (!), meu desodorante tem bio-eficácia (??), meu sabonete oferece uma barreira de proteção para minha pele, e meu protetor solar possui um exclusivo fator azul. Não sei explicar, mas isso não soa estranho para vocês? Temos cada vez mais um ‘respaldo científico’ para o nosso consumo? Ciência e tecnologia (agora numa escala micro, que há pouco era impensável) mudando nosso modo de ver e pensar nosso corpo e nossa saúde. Pra quê/quem?

“Queremos saber/O que vão fazer/Com as novas invenções/Queremos notícia mais séria/Sobre a descoberta da antimatéria e suas implicações/Na emancipação do homem/Das grandes populações/ Homens pobres das cidades/Das estepes dos sertões...”

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

It’s hard to be down when you’re up

Ergela é um porto que não possui altos edifícios. Não digo que se trata de uma cidade de baixas construções, entretanto, seu pouco sinuoso relevo de concreto tem ares quase monótonos. Ergela, de baixo, do pé dos edifícios, é pouco instigante. A decrepitude do Centro remete a uma realidade que compartilham todas as cidades do Novo Mundo: elas envelheceram de repente, sem poder degustar com calma a passagem dos anos e dos séculos. Ver Ergela do lago marrom e denso que a abraça parece-me uma experiência clichê. Nas poucas vezes em que tive a oportunidade de observar a cidade desde algum ponto no lago, fosse um barco, fosse uma ilha, não saboreei surpresa especial. Pelo contrário, me entristeci. São de fato patéticas as imagens modificadas, fraudadas que, sob a forma de cartões postais, se vendem aos turistas incautos. Há uma contradição insolúvel entre essa Ergela que se representa para os turistas e aquela que se desdobra pesada através da bruma fecal que emana do lago Abiaug.

Há muito tempo me impus a tarefa de encontrar uma última e definitiva perspectiva por meio da qual vislumbrar minha apagada cidade. Queria vê-la do alto dos seus edifícios, vê-la com a consciência total de que a estava vendo, abarcando-a integralmente com meu olhar. O palco desta experiência não poderia ser qualquer prédio. Queria posicionar-me num lugar que todos os Ergelenses pudessem ver ou, pelo menos, já tivessem visto. Meu desejo não era apenas estar no topo desse locus abstrato e totalizante chamado cidade de Ergela, mas também estar no alto daquilo que, com maior ou menor intensidade, definisse e diferenciasse Ergela para os seus habitantes. Às margens do Abiaug há uma alta torre – o Ortemosag – que já foi protagonista de postais, comerciais, filmes e propaganda eleitoral. Poucos estão habilitados para subir no Ortemosag e mais raros ainda são os que desejam faze-lo. O Ortemosag era, contudo, o único prédio que se enquadrava nas exigências do meu experimento. Demorei algumas semanas até obter as autorizações e equipamentos necessários para alcançar o ápice da torre. Depois, comecei a subida. Superei os noventa e dois metros do edifício em poucas horas e experimentei leve vertigem uma vez que atingi o “cume”.

Lá estava a tortuosa retícula urbana de Ergela, que se estendia até chocar-se contra morros distantes. O movimento caótico de carros e gentes, visto do topo, era apenas um sutil tremor sobre calçadas e avenidas. Eu estava posicionado no alto do mundo dos ergelenses. Estes, por sua vez, se encontravam completamente alheios a mim. Arrogantemente, cheguei a pensar que aquele lugar, o topo do Ortemosag, era o perfeito panóptico, a mais totalizante das perspectivas, o local a partir do qual podia impor sobre os demais a alienante falsa sensação de anonimato. Eu, acima dos passos, dos ruídos, acima da degeneração e da decrepitude, compreendia inteiramente tudo o que poderia ser Ergela!

Para economizar os esforços da descida, optei pela queda livre que, entretanto, se fez mais longa que a própria subida. Enquanto caía lentamente, ignorado por todos, fui acometido por uma repentina pergunta: “Mas a final, o que havia visto?”. Nada! Nada além do itinerário dos meus próprios passos em Ergela. Nada além da Ergela que eu mesmo inscrevi, utilizando-me dum cinzel forjado com ínfima parte do mar de possibilidades onde todos bebem para marcar seus caminhos num campo onde a princípio só há latência. Mesmo na mais vertiginosa das altitudes, jamais estaria fora de Ergela, nem ela alheia a mim, porque ela não existe. Ergela é como um idioma que só irrompe no real quando se faz palavra falada. Ergela existe no ato daqueles que a utilizam, que transitam nela, que a picotam em intermináveis rotas. Aquele cosmos, aquele todo que do alto do Ortemosag acreditei abarcar, era uma miragem, a cabal ilusão do não lugar de onde vislumbramos tudo. Um falso Aleph, uma perspectiva que seria inócua salvo pelas reflexões que me suscitou. Não tinha visto nada do tudo que acreditei encampar. Nada além do meu próprio e específico lugar, lugar a partir do qual não posso apreender nem a posição nem os trajetos dos demais: ilusão do caos, ilusão do todo; ilusão necessária para que os ergelenses sigam exercendo seu artesanato cotidiano da liberdade com as sobras do ritmo parelho que os homogeneíza.

Por fim o chão me recebeu suave, amortecendo todo e qualquer impacto. Segui caminhando, satisfeito com meu fracasso, feliz por não ter visto nada do lugar onde acreditei que teria a oportunidade de ver tudo. Ergela não se esgotou, eu não a esgotei, soube deter-me justamente no limiar dessa paranóia impossível.

domingo, 4 de janeiro de 2009

O lugar canadense e eu

- metro vinho
- nas escadas rolantes as pessoas ficam a direita para os apressadinhos passarem a esquerda
- sem ladeiras
- a reciclagem eh quase uma falsidade. so reciclam grande coisas e limpas, do tipo caixas de papelao. mas nenhum copinho plastico eh considerado reciclavel.
- alem disso, toda agua eh potavel, acho que ate a da privada.
- moro numa casa que nao tem lampada na sala principal, a luz do banheiro eh no corredor e a macaneta gira para o lado ao contrario.
- sinto falta de escutar a chuva ou o vento. os lugares tem paredes grossas. nao circula nem 1 tipo de ar durante o inverno.
- aqui eu tenho medo do escuro. (nunca tive isso, nem pequenininha).
- muitas casinhas de tijolo
- com "malucos" e gangues pelas ruas (vi eles em reuniao enquanto uma amiga deles era abordada pelos policiais)
- minha irma disse pra eu realmente ficar atras da faixa amarela no metro pq as pessoas puxam e empurram as outras contra o trem
- frequentemente o metro para. "emergencia medica" = alguem se matou
- minha amiga mora com um cara que NUNCA sai de casa. esta SEMPRE sozinho. raramente sai do quarto. nao conversa com praticamente ngm. ela acha que ele nao tem nenhum tipo de atividade na vida. eh bancado pelo governo. provavelmente eh depressivo, considerado com disfuncao emocional e o governo manda mesada a ele por isso. Eles nao tem manicomios ou coisas assim (ainda bem!). Mas alguem fica melhor assim? sem a menor responsabilidade, sem ter nem 1 minimo comprossimo com a propria vida?
- quantos velhos!! de verdade! medicina avancada eh bom, mas tem uns que tao pedindo pra morrer. um velhinho no onibus "meu filho fica me levando no hospital! ele podia so me deixar morrer. Ta pesado carregar a carcaca do meu corpo."

antropologos e pessoas do cinema - hora de darmos as maos.
Eh altamente impressionante como os nossos sonhos sao construidos. sim, aprendemos isso na escola. mas agora eu consigo sentir. Carro do ano, novo celular. Aqui as facilidades sao 1000. Eh facil conseguir grana. qualquer empreguinho vc consegue facil 1000 dolares, nos mais baixissimos. e claro, as pessoas vao consumir. eh triste mesmo, ver que as pessoas no meu querido brasil se matam de trabalhar pra tentar atingir esse padrao de vida de pais desenvolvido. o que pra eles eh lixo, ou brinquedo descartavel, pra "nos" eh meta. e a maioria deles nao sabem da lavagem cerebral cultural que os eua fez nos povos latinos. so defendem e vangloriam a "democracia".

impressionante como eu estava acostumada com as paisagens daqui e nem sabia. tudo atraves de filmes. 2 portas pesadas para conter o frio, e por isso a plaquinha de "open" nas lojas, pq com as portas fechadas nao da pra saber se ta aberto ou fechado. Gigantes distintivos nos "mantedores da ordem". Muitos sinais e letreiros nos onibus/jeep/caminhao escolares. E eu estava acostumadissima a ver isso, so nao tocar.

- a neve! eh linda! parece fofa, assim que ela acaba de cair pode se jogar nela sem se machucar. todos dizem " nao toque na neve amarela. eh xixi." deixa tudo silencioso. acho que ela eh meio acustica. cinza, branco, azul. lago congelado. uma beleza melancolica. nas tempestades vem vento de todos os lados, forma pequenos tornados. eh bom de dancar. um escorregadio que da pra freiar. quando a gente pisa faz um barulho incrivel. agora o que os filmes nao mostram eh que depois pessoas e carros passam, fica tudo uma meleca. sujo, meio lama, cheio de agua, e vc nao tem outra opcao se nao pisar. altamente escorregadio. se estiver atrasado, nem tente correr. velhinhos usam sapatos que fazem barulho de sapateado para cravar no gelo.

-pessoas da sociais...
conversando com um novo velho amigo aqui eu estava enquanto ele exaltava a politica e a economia da AMERICA!!, ao se referir aos eua.

ta, entramos no papo de que democracia nao eh para todos pq a maioria nao eh todos e bla bla bla. Eu, na minha leiguice, disse que para os meus olhos, um dos grandes problemas no meio disso eh a burocracia. para resolver 1 buraco na rua precisa recorrer a "autoridade" local, que recorre ao superior, que vai ao superior. ou seja, pequenos problemas vao se acumulando, quem dira grandes? muito esforco para pouca coisa. Dai pensei que na verdade o mundo deveria ser redividido. na verdade estava pensando so no brasil, mas agora o mundo me parece bom. divisao segundo padroes economicos, sociais e ambientais. Pq claro, eh dificil para um so governo dar conta de diferentes necessidades, como nordeste e sul do brasil. Cada distrito teria autonomia e seriam centralizados (como nos eua, mas com outras divisoes). claro isso numa medida desesperada, imediatista. e utopica, pq nem o mundo, nem o brasil vao se reorganizar. mas continuaria sendo capitalismo. sem mudanca tao radical.

ta porcaria de capitalismo, com altas e baixas ate a super quebra. e puta merda... to aqui, e preciso arranjar dinheiro. trabalho 8 horas todo dia numa coisa que eu nao gosto. nao eh ruim, mas o que eu nao gosto eh alguem mandando em mim. nao quero dar sorrisos falsos e exagerados, e dizer OIIIIIIIIIIIIII!!! COMO VOCE ESTA ESTA MANHAAAAAAAA? as pessoas sentem a falsidade. dou sorrisos sinceros, pq estou tratando com pessoas, nao por negocios!! q merda eh essa que as pessoas gastam no minimo 1/4 do seu dia fazendo so por dinheiro!!! excecoes que fazem o que gostam, pq gostam. sem esquecer que precisamos de mais 1/4 para dormir. e entendo as necessidades dos chefes por ai a fora, mas isso quando olho num aspecto micro, mas quando olho o macro, o mundo ta do avesso!!!! os chefes tem um tipo estranho de poder sobre as pessoas.

as pessoas nao percebem que sao sim obrigadas a fazer certas coisas, acham que sao completamente livres. eh uma ditadura camuflada. a ditadura do dinheiro. mas tb nao digo totalmente mal dele. pq para que uma sociedade caminhe, sao necessarios servicos, e o dinheiro eh o simbolo de que sim, vc esta ajudando em algo para o comum. COMUM = COMO UM. aiii to confusa!

nao acredito em nenhuma forma de poder. o que da o direito do policial ter poder sobre mim? pessoas sao pessoas, suscetiveis ao erro e as tentacoes, a todo instante! claro que os "poderosos" tb erram, e isso afeta a nossa vida. policias estupram, batem.... bla bla bla... nao sei se estou sendo clara.

claro, nao to triste ou brava aqui, pq a minha situacao eh diferente, vim pelo ingles e vou ficar mais 3 meses aqui. nao me importo com o emprego. mas existem pessoas que realmente vivem assim por mtooooos anos!!

e uau. a globalizacao eh real! aqui tem gente de tudo quanto eh parte do mundo! impressionante. 50% estrangeiro!!!

um outro amigo israelense me falou sobre os kibbutz la. pequenos vilarejos comunistas. simpatizo mto com ecovilas, penso que sao uma boa opcao, autosustentaveis, pequenas, sem burocracias, facil de atender as proprias necessidades. eh como se estivessemos voltando as tribos. ele me disse que o problema dos kibbutz eh quando vc quer fazer algo para si. Faculdade? Que curso? viajar? pra q? pra onde? como isso pode ajudar o kibbut? eles permitem vc fazer as coisas ou nao de acordo com o bem estar geral. pq o dinheiro eh comunal. vc nao eh mais um individuo, com vontades proprias. e adoro satisfazer minhas vontades.

to meio desesperancada! nao vejo nada muito excitante. claro, perfeicao ta longe to alcance dos pobres mortais. mas sei la, vcs tem palpites sobre o que sera? uma super teoria? digo em relacao aos modos politicos, economicos... num tempo que todos os "ismos" cairam por terra, como o instavel capitalismo, ou o sonho do socialismo. agora vivemos sem grandes lideres, ou multidoes tentando convergir para um mesmo ponto. alguma opiniao??

desculpa o texto longuissimo e a falta de acentos... nao tem nos teclados daqui.

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