domingo, 31 de maio de 2009

Preciso prosear com alguém...

Não faz uma hora que eu chegava em casa. Mas que coisa! Há um carro, um Tempra com a placa de carapicuiba na frente da garagem, não consigo, assim, entrar com o carro. Toquei o interfone de casa para avisar que embora eu já havia chegado não conseguiria colocar o carro para dentro de casa até que algo fosse resolvido. Minha mãe veio atender e me disse que iria até o buffet infantil do outro lado da praça perguntar se o carro era de alguém daquela festa. Ela estava tão calma e parecia tão centrada que nem me preocupei.
Chegando na porta do buffet minha mãe chamou alguém, vieram atendê-la, mas não ouviram direito o que ela tinha pra dizer, talvez porque ninguém desceu as escadas e chegou ao portão para  atendê-la de fato. Foi aí que vi minha mãe brava. Destruiu a entreda do buffet, arrancou as bexigas e os enfeites com dois simples movimentos de braço. Agora sim as pessoas vieram atendê-la, não muito amigaveis, mas vieram e dentre elas estava o dono do Tempra.
Minha mãe acompanhou o moço até o carro, mas cansada das risadas que ele dava e dos comentários "engraçados" que fazia deu um tapa no capô do carro que fez um barulho razoavelmente alto que se fez ouvir da festa e que teve repercursão muito maior do que o simples eco.
Vieram quinze ou vinte pessoas ver o que estava acontecendo, todas vindas da festa e defendendo o lado do nosso amigo, o dono do Tempra. Minha mãe gritava com todos eles ao passo que todos também gritavam com ela. Eu no meio disso tentava apaziguar alguns ânimos. Tentava apaziguar aqueles que se aproximavam demais e estavam prestes a perder o controle. A multidão dispersou um pouco, resolvi então entrar no carro e coloca-lo para dentro da garagem, mas assim que  me aproximei ouvi uma nova leva de gritos e urros e alguém, um vingador metido a justiceiro, chutou meu carro. Minha mãe tentou afastá-lo, mas sofreu com alguns golpes objetivos e pontuais desferidos contra ela que não chegaram a quatro golpes pelo tempo que o choque entre eles durou.
Tomei o telefone da mão de minnha irmã que também já se encontrava na porta de casa e liguei para a polícia (ótima solução!). Perguntaram meu nome, perguntaram o endereço, o bairro, o cep (como alguém lembra do cep enquanto assiste a sua família sendo ameaçada e agredida?) e o que estava acontecendo. Quando acabei de dizer "estão batendo na minha mãe!" a simpática atendente disse, "desculpe, estão batendo em quem? Não consegui ouvir por causa do barulho". Quando consegui que a atendente entendesse que era uma emergência e que precisava de um homem fardado e armado só para conter a multidão meu pai já estava urrando contra todos eles. Como não deve ser estranho para ninguém: meu pai levou chutes, daqueles que osasquenses dão quando se metem em confusão, com a sola do pé. Era essa a situação quando voltei a mim, pensei.
Homens, todos como bombas, prestes a explodir. Vivemos sobre a tênue linha que separa a loucura da sanidade sem saber ao certo se passamos mais tempo do lado de cá, ou do lado de lá. Mas a polícia já ía chegar. Puxei meu pai, puxei minha mãe e todos estavam atrás de mim, pena que demorei pra perceber quem estava na minha frente: alguns homens bufando e urrando coisas que eu mal entendia querendo descarregar um pouco dessa adrenalina testosteronizada que produziram incrivelmente rápido. Quando, com a mão tentei afastar um dos búfalos que avançava senti ela agarrada por outras tantas que num movimento único e ordenado me puxaram para o meio deles. Azar o meu, na minha frente um homem maior ameaçava com o esterno meu corpo e pedia para que eu os defendesse então, já que não os deixava brigar; outros tinham meus braços nos seus e tantos outros só olhavam até que ele apareceu: o dono do Tempra. Chega pessoal,  eles são de uma família boa! Tenho certeza que ele sabia que quem estava errado era ele, no princípio de tudo. Afrouxaram as mãos e libertei meus braços, heroicamente com três movimentos e num piscar de olhos já estava junto de minha família outra vez. Mas a polícia já ía chegar. A multidão dispersou novamente e com toda a categoria e diplomacia que tenho perguntei o nomes dos dois elementos que agradiram meus pais. Me mandaram tomar no cú, urraram outras coisas que não foi me dado saber e logo a dona da festa, tirando sarro da minha cara disse "por que não fazemos uma fila e dizemos nossos nomes a ele, junto com o número do RG?". A idéia me pareceu ótima pena que não ouve muita aceitação entre eles.
Nesse momento percebi que ao meu lado havia um cara, com a minha idade e metade da minha altura. Com certeza era um desses que adora confusão. Tenho certeza que ao primeiro palavrão que eu dissesse ele me atacaria e dado a sua estatura não me agradava pensar no seu primeiro alvo. Mas a polícia já ía chegar.
A multidão dispersou outra vez e o nosso amigo, o dono do Tempra convencia-os  a voltar pra festa aos poucos. Ficamos ainda algum tempo do lado de fora de casa. O carro de atravessado na rua. Minha cachorra abanava o rabo. A polícia já devia estar a caminho.

Resolvemos entrar em casa e deixar eles com a sua festa já estragada. Mas antes de entrar no portão tivemos que prestar contas a nossa vizinha fofoqueira que já estava do lado de fora de sua casa. Peguei o número do guincho que ela usa sempre que isso acontece, quem sabe funcione?

Entramos em casa, ainda todos apreensivos. A polícia deve ter errado a entrada. O pior é que moro a cinco minutos da delegacia...

Resta agora no peito algo que levarei pra vida. Que ainda não dei nome, mas que soma-se ao sentimento extremamente niilista que surgiu em mim, já faz um tempo, quanto a nós, seres humanos.

O bom-humor e a paciência devem dominar o mundo. Não somos nem parte do que acreditamos ser. Estou extremamente triste, extremamente bravo, frustrado e com muito desgosto do(de) ser humano.

Obrigado pela atenção, já me sinto bem melhor.

(você acredita na polícia, no governo, na Coca com zero calorias, em alguma coisa?)

domingo, 24 de maio de 2009

As Anti-PoA

Anti-PoA I: ir-se

Vem comigo! porque há tom monocorde de vozes que já não seduzem. Só comovem.
Vem comigo! " o eco da avidez massacrada é a efusividade vulgar.
Vem comigo! " qualquer palavra solta vira poesia.
Por isso vem! e idealizaremos.
Idealizaremos para além do substrato desesperadoramente estável de
massa fria onde uma metrópole frustrada sesteia delirante.

Anti-PoA II: prostrar-se

Aqui, lugar onde há movimento e matamorfose em sucessões [previsibilíssimas,
os avançados estetas que exigem NY podem refestelar-se em prantos patéticos.
Não deixam de ter um lugar-função.

Mas e o cafona? E os bares que vencem noites, as paredes que matam gente?
O vinho e seu bordô que estria labios?

PoA é só latência porque morre para os que dela esperamos algo. [Letárgica.
vaguarda viável duma retaguarda que jaz.
esboço precoce do que um Sul mal resolvido não pôde ser.

Difusa miragem urbana entre as decrepitudes possíveis
no presente eterno do novo mundo.

Porto de prosas encalhadas,
campo de prostrados, paradoxo austral
assentado num amnésico dever ser.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sobe!

Apertei o botão chamando o elevador e pouco tempo depois a porta abriu. A ascensorista colocou a cabeça pra fora da caixa e, com um livro de Sidney Shelton na mão, gritou: SOBE! Assim que entrei já fui falando: Quinto andar, por favor. Sem olhar pra mim ela fez acender a luz que dizia respeito a meu destino e voltou a ler. Fiquei fingindo que procurava alguma coisa na mochila quando paramos no terceiro andar, olhei para a moça sentada no banco que lia Sidney Shelton e ela repetiu o grito do mesmo jeito que fez no térreo: Sobe! Ninguém entrou, mas uma senhora de uns cinqüenta e cinco anos com o cabelo curto e vestindo saia até pouco abaixo do joelho com uma blusa amarela anos 80, pensou falando: Ah! Tá subindo, né? Mas na volta você passa por aqui? A ascensorista pela primeira vez pareceu realmente habitar aquele elevador e respondeu: Espero que sim. 

domingo, 17 de maio de 2009

Haikai for wake up

E o Sol nascente
ilumina a madrugada
homens acordando

e quem já acorda
olha as plantas da janela
é outono: dorme.