sábado, 15 de novembro de 2008

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Estou gostando de ver a multiplicidade de discursos que estão sendo veiculados pelo blog. Hoje venho falar um pouco, não teoricamente é claro, do que chamamos experiência. Sempre ouvi dizer que o futuro é um abismo de incertezas, dúvidas e possibilidades. Estar em um novo ambiente me ajuda a relativizar este ponto de partida tomado pela senhora que penteava meus cabelos em frente à lareira da Chácara Travessão e que, com todo o carinho, eu chamava de Vó. Não apenas hoje, mas há tempos, me vejo enredada na própria incerteza e ambigüidade que assume relevância apenas quando verbalizo tal vivência passada. Quero me tornar mais clara, mas deparo-me com a mesma guerra interna expressa pela Polli no que tange a necessidade de organizar o pensamento segundo a lógica de argumentos e construção gramatical próprios da língua portuguesa. Antecipo meus pedidos de desculpa e imploro paciência. :)

Pois... Andando pelas estreitas ruas lisboetas penso na vida vivida e questiono se realmente minha vida está sendo vivida. Sou movida pelas expectativas que, por sinal, norteiam todas as minhas ações. Expectativas brotam do presente, mas almejam o futuro. Se eu sou movida por expectativas, sou movida pela certeza do futuro, daquilo que busco ser, ter, construir. Alguns meses atrás eu almejava um intercâmbio e acreditava que eu poderia ter esta experiência, assim como fantasiava os dias em solo estrangeiro. Pode parecer infantil para quem algum dia saiu do Brasil, mas este não é o meu caso. Por fim, consegui. A cada passo que eu dou em direção à minha casa eu busco a excitação dos passos dados nas minhas fantasias passadas. Mas eu ando... penso... ando... ando... mais um passo... até parar em frente a velha porta verde da rua Gonçalves Crespo, número 27. Nenhum passo foi sentido como os passos que eu havia dado nas minhas ingênuas aventuras fantasiosas. Essa é a minha vida. Não é a incerteza do passo que me perturba, mas a falta de significado que ele carrega (ou talvez nem “a falta” ele carrega).

Tal como as vivencias passadas, sei o que acontecerá. Lisboa deixará saudades, não tenho dúvida. Os passos dados serão lembrados com aquele aperto no peito típico das boas recordações. E ao tornar concreto – em palavras – esta experiência aos colegas, amigos e familiares, a intensidade da experiência já finalizada será quase equivalente às expectativas feitas (em alguns casos serão contrárias, é verdade...eheheh). De resto, eu me questiono: afinal, eu vivo ou sou movida a lembranças e expectativas cristalizadas em ações que, por sinal, geram novas lembranças e expectativas que novamente levam a ações? Ou, mais ainda: desconheço-me tanto que não sei dizer o que sinto no momento da experiência, mas sei dizer o que senti quando o acontecimento teve fim. Refiro-me aos passos dados para chegar a casa, mas também as noites boêmias no bairro alto, as antigas sessões espíritas da casa da minha avó, a descoberta de ter passado no vestibular, a novidade do nascimento da minha sobrinha, o encontro de uma paixão, etc. As malditas expectativas tornam opaca a beleza da própria vivência... Em meio a estes pensamentos, eu sinto que pertenço ao próprio abismo de possibilidades de ações, imersa nas lembranças e sendo moldada por expectativas.

PS: Aceito livros de auto-ajuda e contatos pscioterapeuticos/ psiquiátricos :P

Um comentário:

Polliane Trevisan Nunes disse...

"Não pensa muito que dói."

...

Não sei se é possível sairmos deste círculo (vicioso, virtuoso?) de expectativas, ações e lembranças... Se não imaginamos, não nos decepcionamos, mas também não andamos muito (puro senso comum, mas às vezes estes clichês contêm alguma verdade)... a diferença entre o real e as expectativas nos lembra que não podemos controlar nossas vidas como gostaríamos, e isso é desconfortável sim, mas acho que ainda é melhor do que não ter espaço para boas surpresas...
Se não fosse assim, teríamos problemas com o tédio.
(sim, estamos no capítulo "O que fazer com os desvios do caminho", do best seller Como Viver Intensamente em 10 Lições)

muitos beijos guria!!! E se serve de consolo, também me perco assim!