terça-feira, 18 de novembro de 2008

Aplicações do Princípio da Incerteza

Resumindo em uma frase o Princípio da Incerteza de Heisenberg, tem-se o seguinte: não se pode medir simultaneamente e com precisão a posição e a velocidade de um elétron, pois ao se medir uma das variáveis o valor da outra é modificado. Quando entrei na Física e soube disso, pensei: “- Como assim? Como uma Ciência com C maiúsculo, que explica tudo, pode enunciar um Princípio da Incerteza?”. Física quântica e epistemologia são coisas perturbadoras, e como troquei de curso, não terei mais certezas nem sobre a mecânica newtoniana.
Troquei porque entrei em choque ao me deparar com tantas fórmulas, princípios, leis, gráficos... Também tive dificuldade de me relacionar com 90% do curso: guris cabeludos que só ouviam Led Zeppelin, Iron Maiden e suas variações, assistiam Hermes e Renato e Jackass, e liam J.R.R. Tolkien, além de jogarem RPG. Nada contra, é que eu vinha de outro mundo e fui pega de surpresa. Mesmo assim eles me influenciaram (é compreensível, eu tinha 17 anos), e desenvolvi um certo gosto por este underground musical, além de roupas escuras e botas pesadas. Bom, ainda gosto muito de Led Zeppelin, mas refinei o resto.
Então fiz uma belíssima troca indo para as Ciências Sociais, um curso que todos conhecem, que dá um bom status, bons empregos, e que não provoca, de forma alguma, dúvidas existenciais sem fim. Se antes não me adaptava entre os nerds, agora não me adapto entre os militantes, os intelectuais de berço e teorias ainda mais incertas.
Só posso concluir que a desajustada sou eu. Mas esta constatação não incomoda tanto como outrora. Acho que desisti de buscar uma vida linear, com cada coisa em seu devido lugar. Convivo melhor com a incerteza agora, por falta de opção e através de algumas reflexões sobre isso. Neste momento prefiro não me adaptar a um curso, uma carreira, ou ao que quer que seja. É claro que isso é incômodo às vezes, mas me permite, ao mesmo tempo em que não tenho nada, ter espaço para muitas possibilidades. Estou me deixando surpreender, por coisas inesperadas, por sonhos velhos que só agora têm lugar,e pela própria falta de rumo que aponta novos caminhos. Concordo com a Luiza quando diz que as expectativas ofuscam a beleza da própria vivência. Então, estou tentando me livrar de uma pequena parte delas (tarefa ingrata...). Penso em todas estas coisas quando tenho uma vontade súbita de nascer de novo, numa família com pai, mãe e irmãos felizes, um cachorro, flores na frente da casa, férias em Torres, missa e almoço na vó aos domingos... e eu estaria agora cursando Direito ou Administração.
Perdoem o drama. É só uma tentativa de pensar algumas faltas e falar de uma certa saudade da vida tranqüila que não tive/terei.

2 comentários:

Rodrigo Toniol disse...

Gosto do jeito que você escreve Poli, gostaria de entrar neste debate provocado por você e pela Luiza. Em breve posto algo

Luiza disse...

tarefa ingrata...

bem vinda ao clube! E como diz o Rodrigo osama... a Sociais "desencanta o mundo" e, inevitavelmente, desencanta a nossa vida. As inquietações, desde o momento em que entramos no curso (pelo menos pra mim), fazem parte da nossa existencia.
Auto-ajuda pra ti tbm, Polli! eheheeh
beijinhos!