terça-feira, 22 de setembro de 2009

Come quieto

Há cerca de dois meses, em Montevidéu, assisti um ato público seguido de conferências para discutir o golpe de Estado em Honduras. Naquela ocasião, falou-se bastante sobre qual o papel da comunidade internacional latinoamericana na questão. Houve consenso em torno da idéia de que o atual momento da política externa no continente exigia interferência das nações Sul Americanas no caso, reduzindo a participação dos Estados Unidos. Esta seria uma forma de enfatizar que os projetos progressistas em marcha na região podem ser sustentados pela solidariedade entre os governos do Sul, sem tutela ianque. Favoreceria-se, desta maneira, a gradual consolidação dum espaço de influência e circulação para novas modalidades de gestão, distanciadas dos velhos e nefastos ditames nortistas (cuja presença se fez notar, inevitavelmente, nos pacotões de medidas econômicas “sanitárias” que chegaram embutidos em empréstimos milionários esparramados pela América Latina). Se na economia demoraremos um pouco mais em romper a hegemonia, podemos, contudo, aproveitar-nos das margens de manobra que a política oferece neste momento – tal foi a lógica das discussões em Montevidéu. Mas quais países estariam habilitados a representar o bloco do Sul na pressão pela restituição do presidente hondurenho? Venezuela? Argentina? Bolívia? Paraguai? Os quatro juntos? E o Brasil? - Perguntei. Um jornalista presente na mesa de debatedores ofereceu vaga resposta, não sabia muito bem qual tinha sido o histórico dos posicionamentos do Itamarati frente ao impasse. Quando abri o jornal, hoje pela manhã, soltei um “ufa!” de tranqüilidade e satisfação. A manchete principal dizia: “Agora, é restituição ou morte – Presidente deposto de Honduras volta e se refugia na embaixada brasileira”. Parece que o Zelaya (foto - já na embaixada do Brasil) esteve viajando umas 15h por picadas escuras, trocando de veículo constantemente para evitar barreiras do exército, até ser recebido, de braços abertos, na representação diplomática brasileira em Tegucigalpa. Alegra-me saber que longe do ausentismo alardeado por alguns, o governo brasileiro optou por manter posição ativa e decisiva frente à tragédia de Honduras. Espero da política externa brasileira que, cada vez mais, seja generosa e sensível no desempenho das suas funções de mediadora desses novos tempos latinoamericanos. Aos analistas internacionais, sugiro que atentem para o Brasil se quiserem efetuar avaliações mais completadas dos atuais processos políticos no continente, afinal, a palavra hispânica “cambio” tem tradução direta para o português (“mudança”) e o país de Lula protagoniza, ao lado de outras nações, um ousado projeto de invenção da soberania no Sul do mundo.

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