domingo, 13 de setembro de 2009

Mi Patria está en la Frontera

He dicho Escuela del Sur; porque en realidad, nuestro norte es el Sur. No debe haber norte, para nosotros, sino por oposición a nuestro Sur. Por eso ahora ponemos el mapa al revés, y entonces ya tenemos justa idea de nuestra posición, y no como quieren en el resto del mundo. La punta de América, desde ahora, prolongándose, señala insistentemente el Sur, nuestro norte (Joaquín Torres García)

Ontem à noite, no Teatro do Bourbon Country, Ana Prada lançou ao ar, com forte acento castelhano, palavras mais ou menos assim: “vir a Porto Alegre tem um pouco a ver com a canção Tierra Adentro. Afastar-se do mar, ir entrando. Somos muito parecidos [gaúchos e uruguaios]”. Os rostos, na platéia, se encheram de satisfação. A tônica do espetáculo PoA-Montevideo – Sin Fronteras foi essa: uma intensa tentativa de buscar semelhanças, identidades, transitar entre dois idiomas, conformar novos e fecundos espaços culturais pautados pelo intercâmbio e a generosidade.

Vitor Ramil (BR), Marcelo Delacroix(BR), Daniel Drexler(UY) e Ana Prada(UY), acompanhados por músicos gaúchos e uruguaios qualificadíssimos, desenvolveram maravilhosa performance, com arranjos muito bem resolvidos e um interessante revezamento dos cantores em trios e duetos. Para compor o espetáculo, cada artista escolheu duas ou três músicas do seu repertório que foram re-arranjadas para compor uma “sinfonia” comum, matizada por envolvente mescla de sotaques. Este show que ficará para a história, marca um momento diferenciado da produção cultural independente no Rio Grande do Sul.

Há anos, Vitor Ramil tem desenvolvido, junto com outros músicos, no Rio da Prata, projetos que cada vez mais abarcam novas propostas estetéticas e constituem-se numa perspectiva original para quem faz música no Estado. A tradicional barreira que as composições gaúchas encontram nos centros nacionais de produção cultural pode ser relativizada pelos circuitos de intercâmbio artístico que se entretecem sobre as fronteiras meridionais.

Muito mais do que uma estratégia de publicitários e grandes gravadoras, as novas dinâmicas de contato e interação entre rioplatenses e riograndenses refletem o interesse dos próprios artistas em promover um diálogo de ritmos concebidos como semelhantes sob diversos aspectos. Centro e periferia, no contexto da cultura brasileira, se esfumaçam diante das atuais tendências pressupostas pelo contato transnacional. Os gaúchos estão sabendo aproveitar-se da sua condição de “fronteiriços” para formar conclaves ou referências alternativas do fazer musical no “fim dos fundos da América do Sul”. Isto é entusiasmante, porque alenta a diversificação do nosso repertório musical e sinaliza a emergência de outros horizontes para músicos jovens que buscam visibilizar sua arte e têm dificuldade (ou não querem) de disputar mercados esgotados como os de São Paulo e Rio de Janeiro.

Por fim, acho interessante ressaltar que em outros âmbitos da produção de saber e arte há iniciativas semelhantes àquela proposta por Vitor Ramil e seus “novos gaúchos”. Na academia, na moda e na gastronomia (campos tão díspares!) vemos mobilização no sentido de fomentar elos perenes que tornem possível a circulação de conhecimentos e técnicas no marco de espaços de legitimação não hegemônicos.

2 comentários:

Unknown disse...

parabéns por tua visão do show. Para mim, um santarrosense tosco, foi uma grande honra estar naquele palco!!!

grande abraço

marcelo

ps.: parabéns a todos pelo blog

Alex Moraes disse...

Valeu! Para mim foi entusiasmante poder escutá-los... espero que tenhamos novas oportunidades para presenciar ousadias critiavidas deste tipo.

abraço!

Alex