quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Dois em um

Se a falta é aquilo que não está, podemos descrevê-la? Sentir falta de alguém é uma coisa que se refere a quem fica, não a quem não está, por isso é estranho explicar. A falta pode ser do passado ou do futuro: podemos querer mais uma vez o que já passou, ou podemos querer a companhia de quem não está por causa da desordem que sua ausência provoca, de tudo novo que precisa ser pensado, lugares rearranjados, construções e reconstruções difíceis que a simples presença resolveria. Há também outro momento, que ainda não sei se refere-se ao passado ou ao futuro, mas que para mim não se encaixa como presente: quando você apenas quer a companhia, ligar para contar o que fez durante o dia, pedir um conselho, rir, ou tomar um chimarrão. Sentir falta é como estar parado na calçada, com os olhos tristes e a expressão de um susto que já se acostumou, enquanto as pessoas passam ao redor sem saber de nada, exatamente como um filme clichê. Sentir falta é chorar. Perguntar-se por quê. E achar respostas que nunca satisfazem, a razão não faz parte. É perder o sono imaginando como seria se houvesse presença em vez de ausência. E não há nada pra pôr neste lugar. Os tempos se confundem, as perspectivas e os sonhos tem que ser outros.
Sinto falta da minha mãe e de tudo que faltou acontecer (especialmente o tempo). Compartilho pra ver se ela diminui.
Falta.

(...)

Apenas para dividir uma inquietação: dia desses olhei em volta e percebi que meu creme de cabelo possui tecnologia de nano partículas (!), meu desodorante tem bio-eficácia (??), meu sabonete oferece uma barreira de proteção para minha pele, e meu protetor solar possui um exclusivo fator azul. Não sei explicar, mas isso não soa estranho para vocês? Temos cada vez mais um ‘respaldo científico’ para o nosso consumo? Ciência e tecnologia (agora numa escala micro, que há pouco era impensável) mudando nosso modo de ver e pensar nosso corpo e nossa saúde. Pra quê/quem?

“Queremos saber/O que vão fazer/Com as novas invenções/Queremos notícia mais séria/Sobre a descoberta da antimatéria e suas implicações/Na emancipação do homem/Das grandes populações/ Homens pobres das cidades/Das estepes dos sertões...”

4 comentários:

Unknown disse...

como diz o Cotanda (professor de sociologia contemporânea): - Eu queria ter um cabide eletrônico.
Para que serve isso? - perguntaram os alunos
Ele mesmo respondeu: -Não sei, mas quando inventarem precisarei de um!

Fausto disse...

pois me gabo:
tenho um shampoo com DNA!

Mrs. Flowers disse...

shampoo com DNA...???
hein????

Fausto disse...

pois eh.

foi a pergunta que me fiz quando ele apareceu aqui em casa.