sábado, 14 de novembro de 2009

Me gritas

Vento na cara
e a chuva respingava no vidro.
Eu, sem vapores, agradecia
a absolvição de te haver perdido!

Te perdi!
Não mais me devoras!
E não havia João; Maria se perdera na última ligação.
Eu, a chuva, o taxi.
Sem ti, sem eles, sem ninguém.

E o peito ficou vazio. Andei vazio.
Não foi ruim. Sequer foi péssimo.
Como foi bom extraviar-te, minha cara.
Mas "por favor" - disse no prazer dum quase
espasmo -, "que seja apenas por agora".

E violentamente irrompeste logo após.
Foi quando a chuva golpeou meu corpo,
minha cara deslavada, minhas mãos de dedos
nicotinados.
Foi no seio duma hora vazia.

Aí! Justamente aí irrompeste, cara minha.
Agora peno.
Peno porque faltaste.
Peno porque às 17:15, horario da Capital,
não manchaste tela alguma com tua doce letra.

Agora, que sou só tu, que sou só,
me sei só,
me sei latinoamericanamente melodramático;
desenterro a dúvida estúpida que anseia o óbvio.

Agora que sou ebriedade misturada com
café e analgésico, que sou "cualquiera"
na escuridão do bairro vazio,
novamente, te anseio e me dóis.

Assim deves ser: doida, novelesca.
Eu, nada quixotesco; eu, melodramático.
Tu, musa de armário, musa cômoda das
madrugadas etílicas.

Tu, Júpiter sobre o Oriente Médio,
a mão do império, a pose de quem coloniza.
Essa pose idealizada tão duramente
em dia e noites sem amor e de guerras.

Tu, arrasadora de peitos,
agora estás em mim, de-fi-ni-ti-va-men-te.
Depois do fortuito apagão,
aninhas de novo numa existência vaga
e és mais imponente do que nunca, semblante
estelar.

Tua ausência me gritou há minutos,
talvez horas atrás,
o que era estar no mundo sem vos.

2 comentários:

Leonzito disse...

lindo, nego.

Alex Moraes disse...

Leon!
me alegra que tenhas lido. Algo do que certa vez escreveste me inspirou (e apareceu escancaradamente) nestas linhas.