quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O novo e o próspero

É noite aqui em meu peito,
Caminho veloz,
Na urgência de um encontro com meus versos,
Remédio eu não tenho,
Para a velhice então...
Só uma faixa na cabeça,
Tem de ser vermelha,
Porque vermelha é a cor contra o tédio,
E para os que não se socorrem:
Uma lata de tinta,
Um vinho,
Um sangue de barata.

É noite aqui em meu peito,
Sofro
Sem saber o que sou
Sem saber o que serei
Vilão, herói,
O pensamento corrói
Mata, estraçalha, atrapalha,
E a gente perde a visão,
E a gente solta o guidão,
E o tempo arrasta,
E o vento leva.

É noite aqui em meu peito,
O barulho dos ratos incomoda,
O catarro, o calor, o fervor,
Tudo é nota contra o verão.
Mas inverno, inverno eu não quero mais.
Procuro uma coisa sem nome,
Procuro um pão para saciar a fome,
Procuro a beleza,
O sublime na comunhão,
O eterno no fugaz,
Procuro um gás,
Uma forma de morrer sem sentir dor.

É noite aqui em meu peito,
Cheiro a cereja como o gosto do filme,
Cheiro a saudade,
A maracujá,
Cheiro ao momento,
A esta remota chance de ser feliz
Mas até quando?
Até quando os fantasmas me deixarão em paz?
Cheiro e choro e chego
E chuva
Chuva pra gente se lavar.

É noite aqui em meu peito,
Adormeço e desperto,
Onírico e esgotado,
O meu time não venceu,
As minhas contas não foram pagas,
O meu chuveiro acaba de queimar.
Ah! Se ao menos os meus versos fossem encontrados,
Se ao menos um israelense cruzasse a fronteira e declarasse apoio a causa palestina
E se ao menos uma mulher chorasse neste instante pelos índios oprimidos e queimados
Se o mundo assim fosse
Quem sabe deus seria absolvido.

É noite aqui em meu peito,
Ronco e afogo,
Tempestade, evém luz, evém trovão!
Arranca árvore, arranca prédio, arranca inté coração,
O meu não!
Não vou mais deixá-lo assim na rua,
Desalentado,
Daqui pra frente irei guardá-lo,
E os meus versos,
Com muita fé hei de encontrá-los,
Mesmo que sujos, mesmo que bêbados,
Mesmo encharcados,
Preciso deles,
Preciso para secar as dores do varal,
Para romper, pra florescer, para adoçar meu dissabor
Para aquecer o novo e o próspero
Que não sei,
Que não saberei, talvez,
Mas sabe de uma coisa?
Acho que é isso mesmo...
Vai clarear
E amanhã bem de manhã em meu peito o sol irá nascer
E a noite acabará
E será você.

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