quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Novidades de Portugal

Tal como o Alex, esta é a minha estréia no “Porta Prosas”. Venho trazer algumas novidades lusitanas calcadas em decepções de uma pobre menina sul-americana. Como uma boa “rapariga” que pretende desvendar o mundo, me inscrevo em uma bolsa oferecida pela UFRGS para ir para a cidade das sete colinas, Lisboa, estudar Antropologia. Penso eu, Portugal está tão próximo da França, porque não haveria de ser bom? Hehehehehe. Ledo engano...
A antropologia portuguesa é precária e, com o magnífico Bolonha, está piorando cada vez mais. As aulas têm duração de 1h30min e o curso é realizado em 3 anos. Os alunos não precisam defender um trabalho de conclusão, há apenas os trabalhos realizados em cada cadeira. Os núcleos de pesquisa não são grandes coisas... E parecem nem ao menos dialogar entre si (ou entre universidades). Há grandes antropólogos aqui, não digo que não, mas vejo que existe muita desorganização no que consiste ao campo da antropologia. Há uma organização (a APA – Associação Portuguesa de Antropologia), mas não vejo mobilização por parte dos professores e muito menos por parte dos alunos no que diz respeito a essa Associação. Por exemplo, em fevereiro vai acontecer um congresso na Universidade do Minho (ao norte de Portugal) com antropólogos brasileiros, portugueses e africanos. Perguntei para um colega se alguém estava pensando em organizar algum grupo de interessados para participar do congresso (este colega é bolsista de um grupo de pesquisa) e ele ficou me olhando e questionou se isso havia no Brasil, pois cá não se tem o costume de participar em congressos. Não há contato entre alunos de graduação e pós-graduação e há pouquíssimo envolvimento dos alunos de graduação em projetos de pesquisa.
Decepcionei-me. A menina do terceiro mundo acaba por perceber que a idéia de Europa como sendo o pólo do conhecimento precisa ser revista. E essa experiência está sendo fundamental para eu perceber isso e ver que as universidades brasileiras estão de parabéns! Podem não ter uma ótima infra-estrutura (nisso refiro-me basicamente aos cursos de Humanas, pois ignoro outros institutos). No entanto, em termos de produção acadêmica e consolidação do campo antropológico – muito bem estruturado, por sinal – o Brasil (e outros países sul-americanos) possuem um ótimo desempenho em comparação com as universidades portuguesas. Entre os Erasmus (intercambistas) que estou tendo contato conversei com Álvaro – chileno que está fazendo mestrado em Sociologia – e sua opinião em relação ao ensino português é a mesma. O mais engraçado é: além do ensino de Sociologia e Antropologia não serem muito bons, ainda há o fato de ter-se que pagar a universidade pública – a famosa propina.
Enfim, estou um “bocadinho” triste com as conclusões que estou tirando da minha estadia aqui. Acredito que a melhor experiência que terei é o desenvolvimento obrigatório da língua inglesa (para me comunicar com os erasmus) e a aprendizagem para controlar meus sentimentos e auto-conhecimento típico de uma experiência de intercâmbio. No convívio com portugueses fiquei pasma com algumas colocações que tenho ouvido. Um dos últimos absurdos que ouvi foi dito por uma colega de apartamento e se referia à Independência do Brasil. Dizia ela que, Dom Pedro I realizou a independência do Brasil por gostar muito de nossa terra. Devemos, pois, agradecer-lhe por ter nos dado a tão almejada Independência, estão entendendo? Ehehe. Bem percebem que a discussão durou longo tempo...
Ai, ai... Resta-me dizer que Brasil faz falta. Falta pelo calor do povo, falta pela intensidade dos aprendizados antropológicos que a UFRGS me proporcionava, falta pela vida cultural (com muitas programações gratuitas – pois aqui tudo se paga!), falta pela inexistência de preconceito, pois agora sinto na pele. Sim, brasileira é vista como prostituta – pela quantidade de imigrações de mulheres brasileiras para casas de prostituição -, independente do grau de instrução ou qualquer outra categoria que inevitavelmente criamos para os nossos preconceitos. A simples nacionalidade “brasileira” já é uma categoria preconceituosa na sociedade portuguesa. Infelizmente...
No mais, essas são as críticas, um pouco de angústias e saudades de uma sul-americana em terreno europeu.

Um comentário:

Rodrigo Toniol disse...

Relato emocionante Lu, força aí. Vou escrever algo sobre isso no blog em breve.

beijos