terça-feira, 23 de dezembro de 2008

conversas

Não sei conversar, mas gosto de ouvir. E adoro ouvir pessoas que gostam muito de falar, e conseguem conversar sobre qualquer coisa com desconhecidos, como se fossem pessoas íntimas. Hoje à tarde, viajando de ônibus de Porto Alegre para Caxias do Sul, sentei ao lado de um senhor muito conversador: nunca tínhamos nos visto, mas em menos de cinco minutos ele já me mostrava feliz o motivo de sua ida a Porto Alegre, seus papéis para requerer aposentadoria. Quarenta anos, cinco meses e doze dias de trabalho como policial civil em Caxias. Achava o descanso merecido. Com o sotaque típico da região, falou um pouco mais sobre a correria da véspera de feriado e a dificuldade de conseguir passagens. E então dormiu ruidosamente.
Acordou quando estávamos quase chegando, mas ainda tive tempo de descobrir que ele levou um tiro na perna quando estava em serviço, que tinha só um rim, que Caxias hoje conta com aproximadamente 80 câmeras de segurança espalhadas em pontos estratégicos, que existe um filme chamado 'Pollyanna', que tem um filho engenheiro elétrico que dá aulas no SENAI, que sua filha cursa fisioterapia, e que no final da década de 70 ele lucrou muito com ações, mas por pura sorte.
Ainda me deu uma aula de economia falando sobre a crise americana ("Não que eu seja petista, mas o Lula tá conseguindo segurar bem as coisas agora na crise") e seus impactos. Este assunto lembrou-lhe de um outro filme, que mostrava o drama da crise de 29.
Há esta altura eu já me perdia em meus pensamentos, mas sua vontade de conversar era tanta que respostas monossilábicas o satisfaziam, e o senhor continuava falando, agora sobre a conta de água da sua casa.
Achei muito divertido. Apesar de já ter conhecido muitas pessoas assim, que contam sua vida sem a menor cerimônia, isso ainda me espanta, pois é algo que eu não faria. Mas acho incrível esse compartilhamento.
Despediu-se com um forte aperto de mão: "Foi um prazer, e que Deus te abençoe!".

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