terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Por Cuba




Último dia do ano de 2008. Hoje, à meia noite, o calendário muda de cara e tomamos fôlego para seguir concretizando projetos de vida. Hoje, também a meia noite, a Revolução Cubana completa 50 anos e Cuba ratifica um projeto de vida que contrasta, em termos políticos, com a maioria das realidades nacionais do continente latino-americano: socialismo mestiço, embalado pela salsa, pelo jeito morno e sensual de viver no trópico.


No ano de 2005 viajei à maior das Antilhas. Nos dias que antecederam o vôo a Cuba, estive me preparando para o pior. O pior seria a frustração de encontrar na Ilha a antítese das minhas aspirações com relação à única experiência nacional de construção do socialismo na América Latina. Preparei-me para a ditadura. Ao fim e ao cabo, minha convicção de militante de esquerda, naquela época, não era tão inabalável como pensava. De fato, Cuba desafiou amplamente meus pré-conceitos. A cada dia, se desenrolava com mais nitidez diante de mim um país especial. Nem uma tentativa de soar comunista, ostentar medalhas e pôsteres a moda soviética. Raras foram as manifestações de crença alienada nas possibilidades do regime vigente. Vi agência e protagonismo naqueles que são geralmente tomados por títeres. Não encontrei a Revolução Cubana apenas nas manifestações adesistas dos membros do Partido Comunista. O processo revolucionário emergia com mais nitidez justamente no cotidiano das gentes da Ilha. Gentes que num contexto de agruras, criaram táticas mil para (sobre)viver sem deixar de lado um profundo humanismo que, mesmo colocado em xeque por necessidades quem sabe fundamentais, jamais empalideceu. A Cuba que concebia era bem menos impressionante que a Cuba que conheci. Deixei de exigir dos cubanos que fossem socialistas, para poder, ainda que de forma incipiente, compreender como, diariamente, essa tal Cuba-livre era esboçada, delineada no real. O caráter provocador e criativo dessa cinqüentenária revolução – que começou “verde”, tornou-se vermelha e, aos poucos, incorporou com notável beleza as peculiaridades da sociedade cubana – segue sendo, sem dúvidas, uma possibilidade interessante e em constante atualização.

Na foto, uma das paredes do Acampamento Internacional Julio Antonio Mella, que hospeda as brigadas internacionais de solidariedade a Cuba.

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